A alienação da “verdade”
Vivemos uma época em que a pós-verdade torna-se o veredito da realidade individual e coletiva de cada um. Anualmente, a universidade de Oxford elege uma palavra, que seria “a palavra do ano”, e a de 2016 é “pós-verdade” (post-truth).
A instituição definiu o termo como: um adjetivo “que se relaciona ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais”.
Demonstra-se a partir disso que se acredita muito mais em boatos que apelem para fatores afetivos e colaborem com as crenças individuais do que fatos objetivos e científicos que tenham mais respaldo. Exemplo claro disso é a proliferação de boatos nas redes sociais que se caracterizam como verdade sem terem nem uma fonte confiável.
Muitas pessoas proliferam boatos e acreditam em dizeres simplesmente porque gostam daquilo que foi dito ou vai de encontro com o que acreditam. Nessa era da pós-verdade dificulta-se o debate de ideias pois a opinião individual tem um valor maior perante fatos e pensamentos filosóficos bem elaborados, e essa opinião se alastra como um vírus que se fortalece mais e dificulta sua interrupção.
Nessa era nova, escrever torna-se um perigo, e por mais que seja uma elaboração individual de uma opinião coletiva, o respeito ao diferente deve ser o esteio dessa propagação. Manter-se aos fatos torna a relação com a realidade mais dura, pois é difícil deixar de lado a alienação que nos constitui rumo a uma elaboração melhor do que é percebido.
Por isso, arrisco-me a correr o perigo da escrita, com sua devida fundamentação, trazendo à tona o que tento me caber e exercitando aquilo que posso aprender, transcendendo o erro cotidiano com a tentativa do acerto esporádico.