Cable Girls
A história não é uma área de muita proximidade, todavia aprendi (depois de grande) a importância do conhecimento do passado para que entendamos que tudo que existe foi construído histórico e socialmente e carrega todo esse processo consigo. Não só como mulher, mas como ser humano usuário dos direitos e deveres conquistados, acredito que é importante reconhecer a bravura de quem enfrentou lutas em tempos mais difíceis para que possamos nos beneficiar do resultado de seus esforços hoje.
Não é preciso muito esforço para conhecer um pouco da cronologia da busca pelos direitos e independência das mulheres, uma "pesquisinha" no Google e você encontrará muitas páginas legais que falam sobre o assunto de forma histórica, política ou social. No entanto, mais legal que isso é condensar o contexto histórico em uma trama fictícia (ou não) que envolve temas importantes junto a história da vida das personagens.
A série que trago aqui como recomendação se passa nos anos 1920. Pincelando algumas coisas ligadas à trajetória feminina, o final do século XIX e começo do século XX, foi o período de grande ocorrência do movimento sufragista ao redor do mundo. Tal movimento realizava reuniões e campanhas a fim de garantir à mulher o direito de votar em eleições políticas. Aqui no Brasil, esse direito foi conquistado em 1932 (na onda de indicações, existe um filme chamado “As Sufragistas” que retrata esse movimento). Além disso, tantas outras questões que desfavoreciam o sexo feminino estavam começando a ganhar forma de protesto.
Cable Girls (Las Chicas Del Cable) estreada em abril na Netflix, retrata esse período contando a história de quatro mulheres que viviam em Madrid em 1928. O primeiro episódio começa com a seguinte narração:
“Em 1928, as mulheres eram vistas como acessórios para se exibir, objetos incapazes de expressar opiniões ou tomar decisões. A vida não era fácil para ninguém, mas ainda menos para as mulheres. Se você fosse mulher em 1928, a liberdade lhe parecia uma meta inatingível. Para a sociedade éramos apenas esposas e mães. Não tínhamos o direito de ter sonhos e ambições. Em busca de um futuro, muitas mulheres tiveram de viajar para longe. E outras tiveram de enfrentar as regras de uma sociedade retrógrada e machista. No final, todas nós, ricas ou pobres, queríamos o mesmo: ser livres“.
As narrações no começo e final dos episódios continuam e dão um efeito muito legal na série!
Cable Girls retrata temas difíceis para a vida das mulheres do início dos anos 20, juntamente com um drama novelístico (se você já gostou de novela mexicana do SBT, vai com tudo! rs), em especial em relação ao romance dos personagens principais, porém não rouba a cena dos temas de importância que ocorrem principalmente com as personagens secundárias.
Além da busca pela liberdade, outro tema relevante é a sororidade. Sororidade é um termo atual para representar a aliança entre as mulheres. Não é uma palavra existente na língua portuguesa, mas é usada em um sentido semelhante à fraternidade pelo movimento feminista. É muito inspirador a sororidade retratada na série por meio da construção da amizade entre as personagens femininas.
Sabemos que a luta das mulheres na sociedade não acabou, e conhecer parte do sofrimento das nossas antepassadas dentro de uma narrativa que possibilita nossa empatia com as personagens torna mais fácil a compreensão com os movimentos de igualdade de gênero da atualidade.
Fica aqui minha dica de série pra vocês! Espero que tenham gostado desse tipo de conteúdo. Deixem suas opiniões nos comentários do blog. Até mais.
Referências:
Definindo Sororidade. Texto adaptado por Maiara Moreira de RÍOS, Marcela Lagarde y de los. Sororidad. In: GAMBA, Susana Beatriz. Diccionario de estúdios de género y feminismos. Buenos Aires: 2009. [https://we.riseup.net/radfem/definindo-sororidade-marcela-lagarde]
PINTO, Céli Regina Jardim. Feminismo, história e poder. Rev. Sociol. Polit., Curitiba , v. 18, n. 36, p. 15-23, June 2010 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-44782010000200003&lng=en&nrm=iso>. access on 25 May 2017. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-44782010000200003.