O que seu coração sente é tão importante quanto o que você faz com ele.
Como você tem cuidado do seu coração?
Como você vive sua vida, influencia diretamente sobre seu coração. Tanto o coração concreto (miocárdio), aquele responsável por enviar sangue para o restante do corpo, quanto o abstrato, que normalmente atribuímos às questões emocionais e de como sentimos o mundo e às experiências advindas dele. Tudo isso é uma coisa só. Um grande processo de interdependência.
Por exemplo, diante de uma situação em que sentimos raiva/ansiedade, nosso sistema nervoso simpático é acionado e são liberadas uma série de hormônios, como cortisol, adrenalina, entre outros, pelas nossas glândulas suprarrenais, diretamente para a nossa corrente sanguínea, que por sua vez contrai as artérias com maior velocidade, aumentando a famosa pressão arterial e batimentos cardíacos. (KNOBEL, 2012). Isso de forma frequente e/ou intensa provoca prejuízos no funcionamento do organismo como um todo, especialmente do coração, favorecendo o desencadeamento de doenças.
Ansiedade e estresse são naturais na vida cotidiana, pois tudo que vivemos, lugares que visitamos, emprego em que trabalhamos nos oferecem situações que geram tais sensações. Mas, quando o estresse/ansiedade/raiva acontecem com muita frequência e isso ocupa a maior parte do nosso tempo, é comum perceber que algo não vai bem e isso é expressado através do nosso organismo.
Quando isso ocorre, normalmente você se sente mais irritado, tem dificuldades de se concentrar em uma determinada atividade, influenciada na maioria das vezes por não ter boas noites de sono e até insônia. Pessoas e atividades podem começar a perder o mesmo significado que tinham antes. É isso que o estresse, de forma frequente e /ou intensa pode fazer comigo, com você, e com todas as outras pessoas que estão submetidas a ele.
Agora eu gostaria de lhe fazer algumas perguntas:
Você sabia que as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo? (Dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia [SBC] e da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo [SOCESP] confirmam). Sabia que pelo menos 1 em cada 3 americanos tem um ou mais tipo de doença cardiovascular? E no Brasil afetam cerca de 15 a 20% da população? Então, temos uma série de recursos financeiros (que no Brasil representa R$ 31 bilhões a cada ano) deslocada para intervir sobre doenças, que em sua grande maioria poderiam ser prevenidas com uma forma de viver a vida (estilo de vida) mais saudável e com menos estresse (SOARES, et al., 2016; Roger et al., 2012).
O estresse é um dos principais fatores que, em interação, criam condições para a produção de doenças cardíacas (SOARES, et al, 2016). Alguns dos sinais que podem indicar níveis além do normal (de estresse) são: insônia, tremor constante na pálpebra dos olhos, gastrite, sensação constante de boca seca, alergias sem causa aparente, esquecimento constante, bruxismo, problemas relacionados ao desempenho/atividade sexual, entre outros. Caso tenha algum ou alguns sinais, procure um profissional qualificado para uma avaliação.
Além disso, a exposição contínua a situações de estresse também aumenta a probabilidade de comportamentos chamados de compensatórios (para fugir ou se esquivar do estresse), como: fumar, abusar de substâncias psicoativas e comer em excesso (especialmente alimentos ricos em gordura, sal e açúcar), comportamentos estes que aumentam ainda mais o risco para o surgimento de doenças cardiovasculares (GIANOTTI, 2002 apud SOARES et al 2016).
Outros fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardíacas são: sobrepeso/obesidade, sedentarismo, nível socioeconômico (pois é, pesquisas indicam que quanto menor o nível socioeconômico, maiores as chances de adoecimento por doenças cardiovasculares) e fatores que não são possíveis de mudar, como genética e idade, por exemplo. Além disso, outras doenças como Diabetes, Hipertensão e Hipercolesterolemia (colesterol ruim elevado) também são fatores de risco para o adoecimento cardiovascular (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2010; SOARES et al, 2016).
Mas, e agora? Tem jeito de mudar? Sempre é possível mudar.
Para começar o processo de mudança é necessário conhecer as causas daquilo que nos geram prejuízos, e as informações acima já fornecem alguns caminhos para você refletir sobre quais aspectos estão mais envolvidos na forma como você se comporta (repertório comportamental).
Mas, ainda assim, pode ser difícil, pelo fato dos comportamentos que nos geram prejuízo (má alimentação, sedentarismo e muitos outros) terem grande força, já que tem uma longa história e situações que os mantém ocorrendo. Portanto, o auxílio de um profissional, como o psicólogo, pode ser fundamental para facilitar esse processo de modificação de comportamentos, pois ele irá criar junto com a pessoa, condições para que os comportamentos saudáveis ocorram com maior frequência, além de trabalhar outras questões de ordem pessoal que podem estar gerando prejuízos na vida do paciente.
Porém, atividades físicas regulares, alimentação saudável, psicoterapia, qualidade de sono, relacionamentos com afetos positivos, atividades frequentes de lazer, também contribuem para a prevenção dessas e muitas outras doenças (SOARES, et al, 2016). Estudos do InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP) indicaram aumento de sobrevida e prevenção de eventos cardiovasculares em até 30% dos pacientes que realizam atividade física regularmente. No entanto, antes de se engajar em qualquer atividade, procure um profissional para uma avaliação.
Mesmo quando a evolução de uma doença cardiovascular não leva ao óbito, ela provoca grandes impactos na vida de quem adoece e dos familiares. Então, seja amigo do seu coração. Previna-se! Como diria a querida, Ana Cláudia Quintana Arantes, “nessa vida só vivemos uma vez”. Então, que seja com qualidade, não é mesmo!?
Referências:
KNOBEL, E. Coração é emoção: A influência das emoções sobre o coração. Atheneu, 2010.
ROGER, V. L. et al. Heart disease and stroke statistics—2012 update a report from the American heart association. Circulation, v. 125, n. 1, p. e2-e220, 2012.
SOARES, M. R. Z. et al. Psicocardiologia: análise de aspectos relacionados à prevenção e ao tratamento de doenças cardiovasculares.Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, v. 18, n. 1, 2016.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, Sociedade Brasileira de Hipertensão, Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol 2010; 95(Supl. 1):1-51
Elaborado por: Leonardo Souza- 22 anos. Psicólogo, pós graduando em Docência no Ensino Superior. Apaixonado por viagens e boas histórias. Maníaco por séries e Psicologia da Saúde/ Hospitalar. Gosta de escrever e estudar sobre Comportamento, Saúde e Interdisciplinaridade.
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